Por Clóvis Gonçalves
Cerca de 11% da delegação brasileira na Olimpíada de Tóquio
é nordestina. O número contrasta com as medalhas alcançadas pelo país até esta
primeira semana de Jogos na capital japonesa: 40% das medalhas foram
conquistadas por nordestinos. A última delas, pelo potiguar Ítalo Ferreira,
natural de Baía Formosa, que conquistou o ouro no surfe durante a madrugada
desta terça-feira (27 de julho). Após o ouro, Ítalo não conseguiu segurar a
emoção. O primeiro campeão olímpico da história do surfe dedicou a medalha para
avó, dona Mariquinha, falecida em 2019, meses antes dele conquistar o seu
primeiro título mundial e coroar uma história de superação que iniciou com um
garotinha surfando em tampas de isopor e portas de geladeira em sua terra
natal. “Eu só queria que minha avó tivesse viva para ela ver isso. Para ver o
que eu me tornei, o que consegui fazer por meus pais, por aqueles ao meu redor.
Não tenho palavras, só tenho a agradecer. É algo que eu almejei bastante,
sonhei. Todo dia orei, pedi a Deus e tá aí, meu nome está escrito na história
do surfe”, disse Ítalo à TV Globo.
A emoção de Ítalo passou até para o repórter Guilherme Pereira, que embargou a voz enquanto entrevistava o campeão. Ítalo contou que foi ao Japão com um mantra: “diz amém, que o ouro vem”. “Eu vim com uma frase para o Japão: diz amém, que o ouro vem. E veio, né? Eu acreditei até o final, treinei muito nos últimos meses e Deus realizou meus sonhos. Fui para dentro d’água sem pressão, fazendo o que eu amo”, contou Ítalo. Ao UOL Esporte, Ítalo falou em entrevista que concedeu há dois anos que Dona Mariquinha tinha uma frase elaborada para tudo de bom que ele fazia: ‘você fez bonito, meu filho’, diria a matriarca. De acordo com Ítalo, sempre que vencia algum campeonato, era para ela a quem se referia empolgado para mostrar o feito. Dona de personalidade fechada, a vovó não resistia à empolgação do neto e retribuia com um abraço, um sorriso e a frase célebre. Ítalo pode até ser dono do mundo, mas, antes de todo, é o menino da avó. Com muito orgulho e para sempre.
Na terra natal de Ítalo, Baía Formosa, uma carreata circula
pelas ruas desde a confirmação do ouro. A cidade, que tem pouco menos de 10 mil
habitantes, está em polvorosa e não ligou para o sono alheio. Ora, um filho da
terra é campeão olímpico! Mãe de Ítalo, Katiane Ferreira era só elogiou e
lágrimas durante entrevista que deu à TV Bahia já na manhã desta terça-feira
(27). “Ele passou dias aqui para treinar, ficar com a família, entre amigos e
[suspiro] quando ele saiu, me deu um abraço e ele trouxe um ouro. Foi mais do
que merecido. Ele é um menino especial, humilde, carinhoso e carismático com
todo o mundo”, contou.
Por coincidência, ou peripécia do destino, as duas medalhas
mais ‘caras’ conquistadas pelo Brasil até aqui vieram de brasileiros
praticantes de esportes marginalizados até pouco tempo e de uma região que ainda
sofre com problemas como a xenofobia dentro do próprio país: além do ouro de
Ítalo Ferreira, na madrugada passada a fadinha maranhense Rayssa Leal foi prata
no Skate. É bom respeitar o Nordeste. E todos os esportes. Nunca se sabe quando
você pode cruzar com um possível campeão olímpico por aí. Vinícius Nascimento /
Correio 24h


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